
Estranha a sensação de culpa por destruir a vida de um outro alguém. Complicado, mas é assim que eu me sinto. Egoísmos a parte, a minha própria já estava destruindo aos poucos, como castelos de areia na maré que enche devagar, derrubando parede por parede até que castelos, princesas, príncipes e dragões sejam arrastados pelo oceano pouco se importa se eram contos de fadas ou de bruxas, simplesmente faz seu papel, levando sonhos pra outros continentes.
Barquinhos de papel moldados em sorrisos, arrastados pela correnteza, com as melhores lembranças servindo de vela.
E as tristezas, de âncora.
De repente me vi ilhada em dor, com angústia me servindo de coqueiros, como aqueles que nos fazem sombra, nas ilhas desertas dos quadrinhos. Busquei desesperada um "xis" que me mostrasse um tesouro, que era a minha esperança de voltar a serenidade da maré vazia. Que me levasse de volta a rede estendida na beira da praia. Que me deixasse outra vez dormir embalada pelos sons do mar.
Mas não achei baú.
Não achei barco.
Não achei caminho de volta que me deixasse sair inteira.
Me restou nadar.
E nadei.
Ninguém imagina o fôlego que me foi necessário pra encarar tamanha ressaca do mar, que por diversas vezes tentou me afogar.
Mas eu morreria de qualquer jeito, entende?
Fosse pela dor incessante que a ilha me traria, fosse pelo mar.
Morreria lentamente ilhada em você, ou tentando voltar a terra firme.
Mas consegui.
Deixei pedaços, sonhos, alegrias e quem sabe um futuro brilhante, perdidos na maré. Mas Iemanjá me ajudou.
Me levou as bençãos que vieram junto contigo, mas me deixou com aquilo que eu era antes de me perder nas tuas ondas.
Cansada, machucada e quase morta, sobrevivi.
E de verdade, espero que você sobreviva. O S.O.S sempre chega, por mais que demore. Quem sabe aproveite. Esqueça as canoas. Contrua navios.
Só não quero que me culpe pelas ondas que naufragaram nossos barcos. Pelos temporais que derrubaram nossos castelos.
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